sábado, 22 de outubro de 2016

A SUPERSTIÇÃO RELIGIOSA

Às vésperas da comemoração dos 499 anos da Reforma Protestante (31 de outubro de 1517) boa parte dos evangélicos ainda se vê cercada de incontáveis crendices que a coloca, nesse sentido, na mesma posição dos católicos! O esforço heroico de Lutero está sendo invalidado dia a após dia não apenas pela falta de consideração que boa parte das igrejas tem pela Reforma, mas também pela volta de crenças populares que são transformadas paulatinamente em doutrina que, inclusive podem definir a até perda da salvação de membros de determinadas igrejas, quando esta se dá exclusivamente pela graça (Ef 2.8,9). Diante disso, é oportuno diferenciarmos o que é uma doutrina bíblica e o que é uma mera superstição.
O QUE É SUPERSTIÇÃO

Na Bíblia essa palavra aparece pela primeira e única vez em Atos dos Apóstolos 25.19 e 17.22. O termo procede de duas pa­lavras gregas cujo sentido é "temor aos demônios, aos espíritos malignos ou as divindades pagãs". Portanto, o vo­cábulo superstição designa um sen­timento religioso fundamentado na ig­norância, no medo de coisas sobrena­turais e na confiança em coisas inefi­cazes. Trata-se, por conseguinte, de uma crendice popular baseada em crenças infundadas, ou melhor, fundamentadas na experiência dos antepassados. O dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define o termo como “crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, a depositar confiança em coisas absurdas.”.

E em que devemos fundamentar as nossas crenças? Aquilo que acreditamos ser a verdade deve estar fundamentado em dois grandes pilares, pelo menos: na Ciência e na Fé Bíblica. Desse modo, podemos classificar a superstição em quatro grupos: a Superstição Popular, Superstição Religiosa, Superstições Previsíveis e Simpatias Curativas.
Superstição Popular – É aquela surgida pela tradição dos antepassados com relação a fatos que não tem ligação nenhuma com o mundo espiritual e diz respeito a coisas do dia a dia que podem trazer prejuízos ou benefícios para quem nela crê. Vejamos alguns exemplos abaixo:

1.     “Se não quiser casar peça para alguém varrer seu pé.”
2.     “Espetar um alfinete na roupa do marido garante a felicidade”.
3.     "Apontar estrelas cria verrugas nos dedos.”
4.     “Cortar goiaba com faca fazer surgir bichos nas outras goiabas.”

O teólogo Jeferson Magno Costa ainda destaca as superstições ligadas a avisos, ou seja, as Superstições Previsíveis e nesta categoria estão:
1.     Pica-pau cantando no quintal é sinal de mulher grávida.
2.     “Mulher grávida que põe chave no peito, o filho terá o lábio rachado”.
3.     “Urubu cantando é sinal de que alguém morreu”.
4.     “Palma da mão coçando é sinal de dinheiro chegando.” 

 Simpatias Curativas – Segundo Jeferson Magno, são as superstições usadas para fins medicinais e “revela atitudes perigosas, imundas e ridículas”, conforme veremos a seguir:
1.     “Passar osso de boi em verruga faz a ela cair”.
2.     “Urina de bebê do sexo masculino cura a conjuntivite”.
3.     “Cebola partida debaixo da cama faz a febre passar”.
4.     “Sangue de galinha preta faz a dor de dente passar”.

Superstição Religiosa – É aquela que surge a partir de alguma influência religiosa, seja pagã ou supostamente cristã. Os que creem pensam que ela exerce influência direta na sua vida espiritual. É importante salientar que expressão Superstição Religiosa é muito ampla e abrange todas as crendices presentes em todas as religiões, por isso iremos classificá-la em Superstição Pagã e Superstição Cristã.
a)     Superstição Pagã – Queremos dizer que esse tipo de superstição está presente em todas as religiões não cristãs e tem a sua origem a partir da influência de entidades ou experiências espirituais. A seguir, alguns exemplos de superstições típicas de religiões pagãs:

1.     Usar roupa branca no réveillon para dar sorte no ano novo.
2.     Passar debaixo da escada dá azar.
3.     O movimento dos astros tem influência em nossa vida.
4.     O número 13 traz "mau agouro".

b)    Superstição Cristã - A Superstição Cristã pode ser tanto católica quanto evangélica e neste primeiro momento iremos tratar exclusivamente sobre as superstições entre os católicos, mas antes de tudo é importante relembrar que a Reforma Protestante foi fortemente motivada pelas crendices que surgiram sob influência do paganismo ou mesmo de uma interpretação equivocada das Escrituras ou ainda um misto de influência pagã com falsa interpretação do texto bíblico. Dessa forma, ainda encontramos diversas crenças infundadas entre os católicos, conforme se vê a seguir:

1.     Fazer o sinal da santa cruz (benzer) protege do mal.
2.     Uso do terço para afastar os espíritos.
3.     Trabalhar em dia santo traz azar.
4.     O uso da água benta para exorcizar.

Entre os evangélicos tudo indica que a superstição acontece com frequência maior. Sim! Talvez sejamos o povo mais supersticioso que existe. Somos o único povo que tem o único livro sagrado inerrante, infalível e que é a Palavra de Deus, mas, apesar disso, é entre nós que surgem os maiores absurdos dentro do Cristianismo no que concerne às crenças infundadas, cuja gênese está em influências pagãs, católicas, interpretação equivocada das Escrituras (ou mesmo a falta dela), e ainda nas supostas revelações que podem ser tomadas com igual peso das Escrituras e acabam se tornando doutrina que pode “definir” a salvação e, por fim, a experiência. No entanto, é necessário afirmar que as superstições surgem e encontram maior apoio nas denominações pentecostais (em menor frequência) e neopentecostais, onde o estudo sistemático das Escrituras e sua correta interpretação podem ser negligenciados.
Iremos analisar as principais superstições no meio evangélico e como elas podem ter surgidas:
Superstições por interpretação equivocada da Bíblia
1.     “A palavra tem poder” (Tg 3)
2.     “O óleo da unção tem poder” (Tg 5.14)
3.     “Oração de joelhos é a mais poderosa forma de oração”. (Mt  6.5)
4.     “Entregar o dízimo traz prosperidade”. (Ml 3.10) Ver Ef 1.3

Superstição sob influência católica ou pagã
1.     “Deixar a Bíblia aberta no salmo 91 para espantar os espíritos”.
2.     “ Galho de arruda representa purificação espiritual”.
3.     “Sal Grosso para descarregar energias ruins”.
4.     “Oração no monte tem mais poder que em outro lugar”.

Superstição a partir de “revelações” ou experiência
1.     “Não subirá no arrebatamento quem dormir sem roupa”.
2.     “Mulher menstruada não pode participar da Santa Ceia”
3.     “Orar de madrugada é mais eficaz que em outro horário”
4.     “A oração do pastor é mais poderosa que a do crente comum”



Um dos lemas de Reforma era “igreja reformada sempre se reformando”, mas o que podemos ver hoje são igrejas reformando antigas práticas supersticiosas, dando-lhes agora uma nova roupagem sob a alegação de um suposto embasamento bíblico. Enfim, a adesão de alguns setores do protestantismo ao sincretismo religioso tem gerado crentes defeituosos, interesseiros, que desconhecem a Bíblia e acreditam na palavra de seus líderes como se fosse a própria Palavra de Deus. Não é difícil dizer que algumas dessas crendices podem acarretar a perda da salvação, pois não tem embasamento bíblico, mas são consideradas como se fossem tivessem. Se a igreja não voltar às Escrituras (e aqui está o significado do lema da Reforma acima citado), tão certo voltará à época da Idade Média e Bíblia, em vez de ser a Palavra de Deus, será considerada um amuleto de  boa sorte!

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