terça-feira, 29 de agosto de 2017

HISTÓRIA: “VEM COM JOSUÉ LUTAR EM JERICÓ”


Há certas canções que marcam tanto a nossa vida, mas a maioria de nós tem a mínima ideia de como surgiu, em que contexto, com qual motivação, e etc. Esse é o caso de “Joshua Fit The Battle of Jericho”, umas das canções mais importantes na história da música cristã internacional, cuja origem e sucesso são no mínimo interessantes!

Conforme consta do The Heritage Encyclopedia of Band Music de William Rehrig essa canção surgiu na primeira metade do século XIX entre escravos americanos e por isso trata-se de uma canção do gênero Negro Spirituals, cuja temática estava sempre relacionada a histórias bíblicas de luta, esperança, superação e libertação – algo que tinha tudo a ver com o contexto social em que aqueles escravos se encontravam. Se fizermos uma análise superficial dessas letras, rapidamente descobriremos o seu teor político e abolicionista também, embora essas temáticas apresentassem duplo sentido (bíblico e político). Convém dizer que essa música é fortemente influenciada pelo Segundo Grande Despertamento (1790 – 1840), movimento que enfatizava a salvação, vida renovada e que teve enorme participação na abolição do trabalho escravo nos Estados Unidos.

Algumas poucas referências afirmam que “Joshua Fit The Battle of Jericho” foi registrada por Jay Roberts no ano de 1865, porém essa informação é controversa, embora tenhamos notícias que algumas canções do Negro Spirituals só começaram a ser registradas por volta de 1860, ano em que vários estados americanos já haviam abolido a escravidão e alguns escravos libertos puderam publicar suas composições.

A primeira versão gravada de “Joshua Fit The Battle of Jericho” foi realizada em setembro de 1922 (1924?) pelo quarteto Harrod’s Jubille Singers, um importante conjunto evangélico que percorreu o mundo em várias turnês e foi o primeiro a gravar músicas do Negro Spirituals. A gravação foi feita pelo selo Paramount Records e dá o crédito da música a Jay Roberts. O grupo ainda existe, porém com o nome Fix Jubilee Singers, conta com 16 membros e desde sua fundação, em 1871, vem sofrendo a troca dos seus componentes (http://www.fiskjubileesingers.org). Depois dos Harrod’s Jubille Singers dezenas de outros artistas vieram a regravar a mesma canção nos Estados Unidos, de modo que essa tornou-se uma das mais bem conhecidas da igreja americana sendo cantada ainda hoje, sobretudo em denominações predominantemente formadas por negros.

Como trata-se de dezenas de versões, convém, neste espaço, destacar as mais importantes, como a do ator e ativista socialista Paul Robeson em 1925, da premiadíssima Mahalia Jackson em 1958 e do lendário Elvis Presley que, precisamente, gravou em 31 de outubro de 1960!

BRASIL – “SOLDADO DE CRISTO” / “VEM COM JOSUÉ LUTAR EM JERICÓ“

Em 1973, Ozeias de Paula lançou pela Estrela da Manhã um dos discos mais importantes da música cristã brasileira, o disco Cem Ovelhas, cuja quarta faixa do lado B trazia a primeira versão em português dessa canção que se tem notícia e recebeu o nome de “Soldado de Cristo”. A versão de Ozeias de Paula incluiu apenas a tradução do verso mais importante da canção original, a saber:

”Vem com Josué lutar em Jericó, Jericó, Jericó

Vem com Josué lutar em Jericó, Jericó, Jericó

E as muralhas ruirão.”

Assim como nos Estados Unidos, no Brasil a versão de Ozeias de Paula foi regravada por outros artistas, porém com o título "Vem Com Josué Lutar Em Jericó", como a aclamada banda Sinal de Alerta em 1999, Aline Nascimento, Milton Cardoso e Victorino Silva. Em 2012, Jota A regravou a canção com algumas modificações na letra. A canção na versão de Ozeias de Paula foi cantada no Jovens Talentos Kids do Raul Gil por Ana Karolyne e até o lendário João Alexandre já cantou em vários de  seus concertos.

Esse breve histórico de Joshua Battle of Jerico nos leva a refletir o poder que tem uma música em abençoar o nosso relacionamento com Deus, bem como ter ajudado na luta pela causa abolicionista americana. Assim como na América do Norte, no Brasil essa canção já tornou-se um dos tradicionais corinhos cantados principalmente em ambientes pentecostais e em conjuntos infantis e somente a eternidade poderá quem de fato a compôs e quantas vidas foram abençoados ao ouvi-la!


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