Numa era em que as pessoas não sabem qual a “igreja certa”
para frequentar e o uso frequente do Pragmatismo e Utilitarismo nas técnicas de
evangelismo torna-se necessário entendermos o que é de fato o Evangelho de
nosso Senhor Jesus Cristo, tendo em vista que este conceito talvez até se
encontre perdido em alguns círculos evangélicos ou o seu significado tenha sido
deturpado e modificado à moda do politicamente correto. Numa era em que
técnicas de Administração de empresas estão sendo utilizadas da forma mais
grotesca possível é necessário que voltemos ao Evangelho puro, simples e
poderoso por si só.
O QUE É O EVANGELHO
Evangelho
-
(Gr. Euangelion) Literalmente
significa “boas novas” (Lc 2.10,11). Em outras palavras, “é a boa mensagem que
Deus, em Jesus Cristo, cumpriu suas promessas a Israel, e que o caminho da
salvação foi aberto para todos” (O novo
Dicionário da Bíblia, Edições Vida Nova). Este é um conceito simples e fiel
do que é o evangelho segundo as Escrituras, mas a partir dele iremos
desenvolver o estudo de outras verdades que não estão claras nessa definição, e
que constituem a essência do evangelho pleno.
O Evangelho indica pelo menos três fatos:
A) A
humanidade está contaminada pelo pecado (Rm 3.23)
B) A
consequência do pecado é a perda da salvação (Rm 6.23)
C) A
salvação só é possível em Jesus Cristo (I Tm 2.5; At 4.12) e, portanto, todo o
evangelho resume-se nele.
A PLENITUDE DO EVANGELHO EM CRISTO
Estes
três fatos acima, conforme observamos, encerra-se em Jesus Cristo de forma que
ele é a própria manifestação do evangelho. Sendo assim, para que a salvação em
Cristo fosse consumada, três acontecimentos seriam indispensáveis, conforme
Paulo escreveu aos coríntios:
“Por que primeiramente vos
entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as
Escrituras e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia segundo as
Escrituras.” (1Co 15.3-4)
Com
este único texto entendemos o que é de fato o evangelho pleno de Jesus Cristo.
A ideia do Evangelho Pleno sugere que nada pode ser acrescentado ou diminuído desse
evangelho (Mt 5.18; Ap 22.18).
Sendo Jesus Cristo a essência do evangelho, segue-se que
não existe salvação fora dele e que ninguém chega até ele sem o evangelho, por
isso ele mesmo declara ser a porta e o caminho, sem o qual ninguém vai ao Pai
(Jo 14.6;Jo 10.9). Associado à ideia de salvação exclusiva em Jesus Cristo
Paulo afirmou que o evangelho é “poder de
Deus para a salvação de todo aquele que crê.” (Rm 1.16). Assim sendo, se
alguém pregar outro evangelho que seja interesseiro, que não gere
arrependimento e que não tenha poder para salvar, isto é, que não provoque em
quem ouve a necessidade de salvação, sem dúvida alguma esse não é o evangelho
pleno do Reino de Deus. E quando dizemos que nada pode ser omitido do
evangelho, significa que precisamos pregar que ser cristão é tomar a sua cruz e
seguir a Cristo, e isto implica em sofrimento e dores, mas também em satisfação
de ser um filho de Deus (Jo 1.12) e de ter o seu nome inscrito no Livro da Vida
(Ap 3.5)!
AS BENÇÃOS QUE ACOMPANHAM O
EVANGELHO
Na
verdade, o evangelho por si só já constitui-se uma benção, aliás, uma benção maior da qual milhares de outras
benção são derivadas. Quando dizemos que evangelho é uma benção maior significa
que por meio dele (1) o homem tem consciência do pecado, (2) chega a Jesus, (3)
tem o perdão de pecados e (4) alcança a salvação.
O
fato de a obediência ao evangelho trazer grandes benção materiais não significa
obrigatoriamente que teremos tudo o que queremos. Não significa que seremos
financeiramente prósperos, que teremos um bom emprego, que nunca passaremos
fome ou que a nossa vida será só de vitória.
É preciso entender que ser crente não é garantia nenhuma de prosperidade
material, senão vejamos o que Paulo escreveu:
“Até a presente hora, sofremos fome e sede, e
estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos
afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos; somos injuriados e
bendizemos; somos perseguidos e sofremos; somos blasfemados e rogamos; até ao
presente, temos chegado a ser como lixo
deste mundo e como escória de todos.” (I Co 4. 11-13)
Com
base nesse texto, podemos inferir que as bênçãos que decorrem do evangelho são
principalmente bênçãos espirituais e até mesmo psicológicas ou emocionais, pois
apesar de tantos problemas o cristão jamais perde o sentido da vida, a
esperança, a fé, a alegria, o equilíbrio, o amor ao próximo, o prazer em
contribuir com o Reino de Deus, e etc. E é essa a ideia que Paulo transmite aos
coríntios em sua segunda carta:
“Em tudo somos atribulados, mas não
angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados;
abatidos, mas não destruídos (...) por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o
nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em
dia.”
O EVANGELHO E AS
BENÇÃOS MATERIAIS
Infelizmente popularizou-se uma ideia entre os cristãos
que por causa da nossa obediência ao evangelho Deus necessariamente iria nos
abençoar com toda a sorte de benção material e que somente o crente pode ser
abençoado, mas não é essa a ideia do evangelho (cf. Ef 1.3).
Bênçãos materiais não dependem exclusivamente de nossa obediência, mas também de nossa sabedoria. Há crentes obedientes, mas
tolos. Há pessoas que não conhecem a Cristo, mas são sábios. Isso mostra que a
obediência ao evangelho sem a prudência e a sabedoria normalmente resulta em
fracassos e é essa a causa de muitos terem se afastado de Deus, sob a alegação
de que ficaram decepcionados com Ele.
Ora se alguém vem a Cristo com o intuito de mudar de vida (material) nem sempre
encontrará o que tanto deseja e este é um grave problema associado à
evangelização no século XXI e que consiste em anunciar as bênçãos do evangelho ao invés do próprio evangelho e dessa
forma o evangelismo perde a sua eficácia.
Em suma, parece exagero, mas o evangelho pode trazer mais problemas do que bênçãos materiais (Mt
10.34,35)!
O EVANGELHO E OS MILAGRES
Na série de bênçãos que acompanham o evangelho os
milagres ou maravilhas são realizados com a finalidade de glorificar o nome de
Jesus, mediante a edificação da fé de quem já é crente e salvação dos perdidos,
mas isso também não quer dizer que Deus vá curar as enfermidades de todos os
seus servos.
O grande equívoco do evangelismo pós-moderno é a ênfase no
efeito ao invés da causa. No milagre ao invés do dono do
milagre. E não podemos jamais desconsiderar a fragilidade na fé de quem vem a
Cristo unicamente pelos milagres.
JESUS CRISTO É O
FUNDAMENTO DO EVANGELHO
Ver Mt 7.24-27
No ato do evangelismo jamais podemos esquecer o
fundamento do evangelho – Jesus Cristo. Se algum evangelho se propõe a
enfatizar outra coisa, e não a Cristo, segue-se que não é o evangelho do Reino
que está sendo anunciado. O verdadeiro evangelho gera não somente a fé salvadora,
mas também a fé para suportar os problemas decorrentes dele. E foi desse
evangelho cristocêntrico que viveram e vivem os santos de Deus em toda a
história da igreja, sendo capazes de morrer por causa desse evangelho. Mas se o
fundamento da fé forem os milagres, as bênçãos, o entretenimento, o cargo na
igreja ninguém será capaz de entregar a sua vida por estes fundamentos.
Ninguém, se exposto à prova, morrerá por causa de milagres ou de qualquer
benção. E se alguém vem aos nossos cultos por causa de milagres ou fundamenta a
sua fé nisso, tão cedo desistirá da fé, por que está sendo edificada na areia e não na rocha que é Cristo. Ademais, se o milagre for a única “isca” do
evangelho, quando eles cessarem ou tardarem, logo a fé se acaba.
CONCLUSÃO
Em sua carta aos gálatas o apóstolo Paulo escreve: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu
vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.”
(Gl 1.8)
O pós-modernismo trouxe consigo inúmeras inovações
teológicas as quais tem prejudicado substancialmente o evangelho pleno do Reino
de Deus, tais como o Evangelho da Autoajuda, o Evangelho da Confissão Positiva,
o Evangelho Liberal e a Teologia da Prosperidade que se encaixam perfeitamente na
categoria de outro evangelho de que
Paulo fala. São evangelhos que reduzem a soberania de Deus, e concede poderes
aos homens, consequentemente proclamando o humanismo e o materialismo e
retirando de Deus o que lhe pertence – a honra, a glória, o poder (Ap 4.11).
Nestes dias de evangelho fácil, torna-se por demais
necessário que voltemos às Escrituras, aliás, que voltemos ao evangelho para
que lembremos a verdadeira prioridade do Reino de Deus – pregar a Cristo
crucificado (I Co 1.23)!
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