A análise de letras da
música evangélica nunca foi tão necessária como se faz agora, tendo em vista os
diversos erros doutrinários encontrados o que levou o Reverendo Augustus
Nicodemus a fazer uma declaração ousada no ano passado: “Nunca cantamos e tocamos tanto e nunca fomos
tão analfabetos em relação às Escrituras”.
Quem se atreve a fazer a
análise de letras pode ser facilmente mal compreendido por que aqueles que têm
uma interpretação totalmente equivocada da expressão “não julgueis” afirmada
por Jesus (Mt 7.1), mas ao longo deste estudo veremos que julgar (analisar) a
letra de uma música é necessária (e por que não dizer urgente?).
O CONTEÚDO DA MÚSICA CRISTÃ NO SÉCULO
PASSADO
Falar
de música cristã nos aos 70, 80 e 90 é simplesmente abençoador, considerando as
dificuldades que os primeiros artistas tiveram para gravarem os seus primeiros
discos (Feliciano Amaral, Luiz de Carvalho, Jair Pires) e até mesmo a
dificuldade na aceitação da própria igreja em relação às músicas que abordavam
temas diferentes do tradicional, como é o caso do cantor Luiz Arthur com a
música “Drogas Matam”, Álvaro Tito com suas músicas mais agitadas e os
primeiros conjuntos de rock cristão que lutaram incansavelmente para serem
aceitos, como o caso do Grupo Rebanhão, Catedral, Sinal de Alerta, e etc. Todos
estes artistas conseguiam traduzir em suas canções as dezenas de doutrinas
bíblicas e ensinamentos que fundamentavam a sua fé, que conferiam às suas
músicas características especiais, as quais desejo elencar abaixo:
1. Evangelismo – Ex:“Portas Abertas” (Grupo Logos), “Pra Você” (Novo
Som), “Juízo Final” (Eliézer Rosa), “O Valor de Uma Alma” (Mara Lima).
2. Teocentrismo/Cristocentrismo – Ex: “Jesus” (Mattos Nascimento), “Deus” (Ozéias de
Paula), “Nazareno” (J.Neto), “Cicatrizes” (Jorge Araújo).
3. Devoção – Ex: “Santuário” (Izaias Mendes), Catedral (Espírito
Santo), “Presença” (Nova Dimensão), “Santo Espírito” (Marcos Antônio).
4.
Consolo Espiritual –
“Não Há Barreiras” (Álvaro Tito), “Lágrimas” (Wagner Roberto), “Creia” (Ozéias
de Paula).
5.
Temas Universais –
Ex: “Brasil” (Complexo J), “Por Amor” (Kim), “Drogas Matam” (Luiz Arthur),
“Carros de Boi” (Os Peregrinos), “Liberdade” (Dalvinha).
Normalmente, somos levados a crer que as músicas do
passado são quase perfeitas, mas historicamente nem sempre é isso que se
constata, pois canções como “Nova Aliança” de Wagner Roberto, “O Mover do
Espírito” de Armando Filho, “Vou Seguir” de Cassiane ou até o cantor sacro
Ozéias de Paula na música “Eu e Jesus” não estão livres de desvios teológicos.
Mas um fato é certo: havia mais músicas teologicamente alinhadas.
O CONTEÚDO DA MÚSICA CRISTÃ ATUAL
Torna-se necessário
descrevermos de maneira sistemática os principais temas abordados na música
cristã atual, sabendo que esses temas giram em torno da Teologia da Prosperidade, ou seja, derivam dela e estão intimamente
ligadas, conforme veremos a seguir:
1) Triunfalismo - A palavra
“triunfalismo” advém de “triunfo”, palavra de origem latina, “triumphus”, que
era o nome que recebia “a entrada solene em Roma de um general vitorioso”, e
que, por extensão, passou a significar “vitória” (Fonte: wikipedia). Por
conseguinte essa nova doutrina sugere que o crente não deve aceitar a derrota
em sua vida, de modo que essas canções retratam um fiel que nunca perde
batalhas e que “nasceu para vencer”.
2) Individualismo - No contexto
deste estudo o Individualismo desconsidera toda a coletividade que remete à igreja e defende o suposto protagonismo
do “crente de vitória”, algo que nada tem a ver com a igreja primitiva.
3) Vingança – Não é tão antiga a essa
ideia de vingança na música gospel. Trata-se de um fenômeno recente em que o eu lírico não apenas pede a Deus a sua
vitória, mas também vingança ou revanche aos seus inimigos.
4)
Confissão Positiva –
O surgimento dessa nova teologia remete à primeira metade do século passado nos
Estados Unidos com Willian Kenyon. A característica básica da Confissão
Positiva é o suposto poder espiritual que há em nossas palavras (ver Tg 3.10).
O critério exigido para uma
música evangélica fazer sucesso atualmente é a abordagem dessas 4 temáticas
acima, que, conforme vimos, não confrontam o pecado e nem produzem
arrependimento salvífico ao não evangélico que ouve. Como boa parte dessas
músicas tratam apenas esses temas, já quase não há novidades no conteúdo de
novas músicas lançadas. Isso traz a falsa ideia de que a teologia protestante é
muito pobre já que não aborda outros temas além desses supracitados. Acerca
disso o cantor Paulo Cezar, do Grupo Logos, comentou em entrevista recente “a repetição de muitos
jargões, palavras de ordem e mensagens de prosperidade”. A
mesma ideia é compartilhada pelo cantor João Alexandre em sua polêmica música “É
Proibido Pensar” ao afirmar que “são sempre variações do mesmo tema; meras repetições” (Ver o post Evangélicos
que Não Pensam).