domingo, 31 de janeiro de 2016

NÃO HÁ NADA DE NOVO NA MÚSICA EVANGÉLICA!


Todo o ano são lançados no Brasil inúmeros discos evangélicos, mas pouquíssimos deles trazem novidades em relação ao conteúdo das canções, pois sempre os mesmos assuntos são explorados pela maioria dos compositores, ainda que tenhamos bons músicos ainda. O cantor João Alexandre, a quem aproveito para render a minha homenagem, já tratou muito bem esse assunto em sua célebre canção “É Proibido Pensar”, que começa com esses versos:
“Procuro alguém pra resolver meu problema
Pois não consigo me encaixar neste esquema
São sempre variações do mesmo tema
Meras repetições
.
Este é um triste retrato do cenário evangélico no Brasil, cujas canções não passam de meras repetições mal arranjadas para satisfazer ao ego de um público menos exigente, que pouco conhece das doutrinas centrais da Bíblia e mora em um país de terceiro mundo, onde muitos pastores e artistas cristãos encontram uma ótima oportunidade de exploração religiosa, enfatizando temas por demais desgastados como o Triunfalismo, que abarca outros como a Auto-ajuda, Confissão Positiva e culmina com a miserável Teologia da Prosperidade.
Esse fato chama a minha atenção pela falta de criatividade, cultura e conhecimento teológico dos artistas cristãos, que resulta em uma visão bastante limitada sobre o conceito de adoração e até mesmo das doutrinas centrais das Escrituras, haja vista que 90% dos grandes hits evangélicos não conseguem sair dessa tríade paupérrima: Auto-ajuda- Confissão Positiva-Teologia da Prosperidade.
Quem já leu a Bíblia inteira deve ter encontrado uma variedade de assuntos abordados pelos escritores sagrados, em que a Teologia Sistemática agrupou em 3 grandes blocos de doutrinas, a saber:
As Doutrinas Da Salvação
As Doutrinas Da Fê Cristã
As Doutrinas Do Porvir
Cada bloco de assuntos doutrinários se divide em uma variedade enorme de ensinamentos. Dessa forma, as Doutrinas da Salvação incluem a Doutrina do Pecado, Arrependimento, Santificação, Evangelização, Eleição, Predestinação, e etc. As Doutrinas da Fé Cristã se subdivide em uma diversidade doutrinária maior, como por exemplo, a Doutrina das Escrituras, da Santíssima Trindade, de Cristo, do Espírito Santo, do Homem, da Igreja, da Lei e Graça, do Perdão, da Santa Ceia, do Testemunho Cristão, das Promessas de Deus, e etc. Ah...O teólogo Antônio Gilberto destaca ainda a Doutrina do Sofrimento do Cristão Nesta Vida. Esta última doutrina, claro, é essencialmente bíblica, mas quando entendida erroneamente resulta na bagunça que se vê na música gospel de hoje, pois, como já disse, as aludidas canções são destinadas aos irmãos que “estão passando pela prova”, cujos “sonhos não podem morrer” e que, aliás, precisam “sonhar os sonhos de Deus” e ainda “decretar, declarar, profetizar, determinar a vitória”.
Pois é. Como você percebeu, a variedade de doutrinas e ensinamentos encontrados na Bíblia são por demais extensos e por isso eu me pergunto porquê os compositores dos grandes hits atuais só abordam um único assunto, e ainda distorcido, em suas composições! Por que só falam de vitória, de sonhos, curas, milagres (de modo distorcido)? Por que só escrevem essas bobagens, se existe uma gama quase infinita de temas a serem desenvolvidos? Sem dúvidas isso denigre o conceito de música cristã, como se o evangelho fosse simples, pobre e consistisse em apenas Triunfalismo.
Em entrevista concedida a um site cristão, o cantor Paulo Cezar, vocalista do Grupo Logos, afirmou que o desenvolvimento da música evangélica é positivo em termos de qualidade técnica, bem como a evolução dos músicos, dos estúdios, dos instrumentos e do som é perceptível. As chances de alguém gravar e fazer um bom trabalho, hoje, são muito maiores do que antes. O que mudou para pior, com algumas exceções, foi o conteúdo, tanto do que se produz como do objetivo com que se canta (...) além disso, vemos a repetição de muitos jargões, palavras de ordem e mensagens de prosperidade”.
A única solução para toda essa falta de criatividade e conhecimento bíblico é os cantores gospel voltarem para o estudo piedoso das doutrinas bíblicas ou pelo menos buscarem inspiração artística em nomes, como Ozéias de Paula, Luiz de Carvalho, Edson Coelho, Sérgio Lopes. Se isso não ocorrer coisas piores virão, mas Deus continua bradando através do tempo: “O meu povo perece por falta de conhecimento” (Os 4.6).