sábado, 28 de maio de 2016

A LIDERANÇA APÓSTÓLICA

Sem dúvida alguma o nosso Senhor Jesus Cristo é o maior líder que já existiu! Maior em sabedoria, maior em poder, maior em graça e por demais estratégico e focado em cumprir metas. Sim, cumprir metas, a saber, cumprir a Lei e estabelecer um novo caminho para o céu (Jo 14.6; Hb 10.19,20). Tal objetivo foi cumprido cabalmente e, enquanto os efetivava, Ele treinava seus 12 apóstolos que seriam testemunhas vivas da sua encarnação e anunciariam o seu Evangelho em todo o mundo defensivamente, sendo os primeiros apologistas cristãos na história da igreja (Mc 16.16).
A liderança dos apóstolos de Jesus tem sido mal entendida nestes dias. Há que faça uso do título para justificar supostas unções ao mesmo tempo em que exigem um respeito superior por causa dessa nomenclatura, que lhes conferem a ideia de representantes legítimos de Cristo e, sobretudo, intocáveis! Mas não é esse o conceito que inferimos em Atos dos Apóstolos e nas epístolas. A liderança apostólica não estava ligada necessariamente à administração eclesiástica, não trazia aos apóstolos algum status social e muito menos um sacerdócio centralizado. Vale dizer que alguém só era considerado um apóstolo de Cristo se (1) tivesse aprendido diretamente com ele e (2) ter sido testemunha de sua ressurreição. Se nos basearmos nestes dois critérios, segue-se que os que hoje se intitulam apóstolos, na verdade, nada são.
Segundo A.F. Walls, historicamente a liderança dos apóstolos não estava relacionada primeiramente à administração eclesiástica, mas sim “servirem de testemunhas a Cristo, testemunho este baseado em anos de conhecimento íntimo, experiências preciosas e treinamento intenso”. O teólogo acima citado também assevera que eles eram “apenas pedras de toque da doutrina, os tesoureiros da tradição autêntica sobre Cristo”, ou seja, em outras palavras, eram pontos de referência acerca do Cristo. Foram os enviados por Cristo para anunciarem as Boas Novas, plantarem igrejas, servir, mesmo que à distância, no ministério do ensino e combater as heresias que já eram existentes desde a fundação do Cristianismo.
Um dado importante associado ao que já foi dito acima é que apóstolo e governo são dons ministeriais distintos (I Co 12.28). Isso já mostra que nem todo apóstolo era um dirigente de congregação, mas também podiam servir na assistência espiritual das igrejas (At 8.14,15) e também escolhiam dirigentes locais para cuidar das novas congregações que nasciam. É importante dizer que cada congregação recebia autonomia própria para realizar diversas atividades, como, por exemplo, escolher os 7 diáconos (At 6.2,3) e batizar novos convertidos (I Co 1.14,16). Merece destaque também o primeiro concílio da igreja – Concilio de Jerusalém – que não foi presidido somente pelos apóstolos, mas também por anciãos.
Mas o que dizer sobre os autointitulados apóstolos de hoje? Preciso considerar o que a história da igreja já conta: que quando todos os apóstolos, incluindo Paulo, morreram (por volta de 100 d.C.)  acabou-se a era apostólica. Conforme escreve Roger Olson, entre o final do século I e início do século II “cada congregação tinha um presbítero ou grupo de presbíteros”, e algum tempo depois “a maior das igrejas selecionava um só presbítero para servir como bispo” que receberia uma função parecida com os apóstolos. No entanto, com o tempo, esses bispos, por causa de sua autoridade, centralizaram neles mesmos quase todo (senão todo) o serviço cristão. Isso quer dizer, segundo Olson, que até “o início do século III, era comum que cristãos leigos (...) oficiassem batismos e dirigissem os cultos, inclusive a ceia do Senhor”, mas lhes foram tiradas a autoridade e liberdade de servirem nos cultos sem serem ministros oficiais. 
  Dito isto, fica claro que o apostolado acabou-se com João e que a liderança dos apóstolos consistia, basicamente, em testemunhar a Cristo (At 1.8), anunciar o Evangelho (Mc 16.16), servir no ministério do ensino (At 6.4) e combater heresias e influências pagãs na igreja (como se lê em Gálatas e I Coríntios). Mas não é isso que vemos nos autointitulados apóstolos de hoje! Não testemunham do Cristo bíblico, não anunciam o evangelho, ensinam “outro evangelho”, introduzem heresias, não tem um mínimo de cérebro para defender o evangelho pleno e estão sentados nas cadeiras dos apóstolos!



 Referências Bibliográficas:
 O NOVO Dicionário da Bíblia. São Paulo: Edições Vida Nova, 1962.
 Olson, RogerHistória da Teologia Cristã.  São Paulo: Editora Vida, 1999

sábado, 21 de maio de 2016

RESGATANDO O CONCEITO DE “EVANGELHO”.


Numa era em que as pessoas não sabem qual a “igreja certa” para frequentar e o uso frequente do Pragmatismo e Utilitarismo nas técnicas de evangelismo torna-se necessário entendermos o que é de fato o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, tendo em vista que este conceito talvez até se encontre perdido em alguns círculos evangélicos ou o seu significado tenha sido deturpado e modificado à moda do politicamente correto. Numa era em que técnicas de Administração de empresas estão sendo utilizadas da forma mais grotesca possível é necessário que voltemos ao Evangelho puro, simples e poderoso por si só.
O QUE É O EVANGELHO
Evangelho - (Gr. Euangelion) Literalmente significa “boas novas” (Lc 2.10,11). Em outras palavras, “é a boa mensagem que Deus, em Jesus Cristo, cumpriu suas promessas a Israel, e que o caminho da salvação foi aberto para todos” (O novo Dicionário da Bíblia, Edições Vida Nova). Este é um conceito simples e fiel do que é o evangelho segundo as Escrituras, mas a partir dele iremos desenvolver o estudo de outras verdades que não estão claras nessa definição, e que constituem a essência do evangelho pleno.
O Evangelho indica pelo menos três fatos:
A)   A humanidade está contaminada pelo pecado (Rm 3.23)
B)   A consequência do pecado é a perda da salvação (Rm 6.23)
C)   A salvação só é possível em Jesus Cristo (I Tm 2.5; At 4.12) e, portanto, todo o evangelho resume-se nele.

A PLENITUDE DO EVANGELHO EM CRISTO
Estes três fatos acima, conforme observamos, encerra-se em Jesus Cristo de forma que ele é a própria manifestação do evangelho. Sendo assim, para que a salvação em Cristo fosse consumada, três acontecimentos seriam indispensáveis, conforme Paulo escreveu aos coríntios:
“Por que primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia segundo as Escrituras.” (1Co 15.3-4)
Com este único texto entendemos o que é de fato o evangelho pleno de Jesus Cristo. A ideia do Evangelho Pleno sugere que nada pode ser acrescentado ou diminuído desse evangelho (Mt 5.18; Ap 22.18).
Sendo Jesus Cristo a essência do evangelho, segue-se que não existe salvação fora dele e que ninguém chega até ele sem o evangelho, por isso ele mesmo declara ser a porta e o caminho, sem o qual ninguém vai ao Pai (Jo 14.6;Jo 10.9). Associado à ideia de salvação exclusiva em Jesus Cristo Paulo afirmou que o evangelho é “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.” (Rm 1.16). Assim sendo, se alguém pregar outro evangelho que seja interesseiro, que não gere arrependimento e que não tenha poder para salvar, isto é, que não provoque em quem ouve a necessidade de salvação, sem dúvida alguma esse não é o evangelho pleno do Reino de Deus. E quando dizemos que nada pode ser omitido do evangelho, significa que precisamos pregar que ser cristão é tomar a sua cruz e seguir a Cristo, e isto implica em sofrimento e dores, mas também em satisfação de ser um filho de Deus (Jo 1.12) e de ter o seu nome inscrito no Livro da Vida (Ap 3.5)!


AS BENÇÃOS QUE ACOMPANHAM O EVANGELHO
Na verdade, o evangelho por si só já constitui-se uma benção, aliás,   uma benção maior da qual milhares de outras benção são derivadas. Quando dizemos que evangelho é uma benção maior significa que por meio dele (1) o homem tem consciência do pecado, (2) chega a Jesus, (3) tem o perdão de pecados e (4) alcança a salvação.
O fato de a obediência ao evangelho trazer grandes benção materiais não significa obrigatoriamente que teremos tudo o que queremos. Não significa que seremos financeiramente prósperos, que teremos um bom emprego, que nunca passaremos fome ou que a nossa vida será só de vitória.  É preciso entender que ser crente não é garantia nenhuma de prosperidade material, senão vejamos o que Paulo escreveu:
Até a presente hora, sofremos fome e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos; somos injuriados e bendizemos; somos perseguidos e sofremos; somos blasfemados e rogamos; até ao presente, temos chegado a ser como lixo deste mundo e como escória de todos.” (I Co 4. 11-13)
Com base nesse texto, podemos inferir que as bênçãos que decorrem do evangelho são principalmente bênçãos espirituais e até mesmo psicológicas ou emocionais, pois apesar de tantos problemas o cristão jamais perde o sentido da vida, a esperança, a fé, a alegria, o equilíbrio, o amor ao próximo, o prazer em contribuir com o Reino de Deus, e etc. E é essa a ideia que Paulo transmite aos coríntios em sua segunda carta:
Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos (...) por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.”
O EVANGELHO E AS BENÇÃOS MATERIAIS
Infelizmente popularizou-se uma ideia entre os cristãos que por causa da nossa obediência ao evangelho Deus necessariamente iria nos abençoar com toda a sorte de benção material e que somente o crente pode ser abençoado, mas não é essa a ideia do evangelho (cf. Ef 1.3).
Bênçãos materiais não dependem exclusivamente de nossa obediência, mas também de nossa sabedoria. Há crentes obedientes, mas tolos. Há pessoas que não conhecem a Cristo, mas são sábios. Isso mostra que a obediência ao evangelho sem a prudência e a sabedoria normalmente resulta em fracassos e é essa a causa de muitos terem se afastado de Deus, sob a alegação de que ficaram decepcionados com Ele. Ora se alguém vem a Cristo com o intuito de mudar de vida (material) nem sempre encontrará o que tanto deseja e este é um grave problema associado à evangelização no século XXI e que consiste em anunciar as bênçãos do evangelho ao invés do próprio evangelho e dessa forma o evangelismo perde a sua eficácia.
Em suma, parece exagero, mas o evangelho pode trazer mais problemas do que bênçãos materiais (Mt 10.34,35)!
O EVANGELHO E OS MILAGRES
Na série de bênçãos que acompanham o evangelho os milagres ou maravilhas são realizados com a finalidade de glorificar o nome de Jesus, mediante a edificação da fé de quem já é crente e salvação dos perdidos, mas isso também não quer dizer que Deus vá curar as enfermidades de todos os seus servos.
O grande equívoco do evangelismo pós-moderno é a ênfase no efeito ao invés da causa. No milagre ao invés do dono do milagre. E não podemos jamais desconsiderar a fragilidade na fé de quem vem a Cristo unicamente pelos milagres.
JESUS CRISTO É O FUNDAMENTO DO EVANGELHO
Ver Mt 7.24-27
No ato do evangelismo jamais podemos esquecer o fundamento do evangelho – Jesus Cristo. Se algum evangelho se propõe a enfatizar outra coisa, e não a Cristo, segue-se que não é o evangelho do Reino que está sendo anunciado. O verdadeiro evangelho gera não somente a fé salvadora, mas também a fé para suportar os problemas decorrentes dele. E foi desse evangelho cristocêntrico que viveram e vivem os santos de Deus em toda a história da igreja, sendo capazes de morrer por causa desse evangelho. Mas se o fundamento da fé forem os milagres, as bênçãos, o entretenimento, o cargo na igreja ninguém será capaz de entregar a sua vida por estes fundamentos. Ninguém, se exposto à prova, morrerá por causa de milagres ou de qualquer benção. E se alguém vem aos nossos cultos por causa de milagres ou fundamenta a sua fé nisso, tão cedo desistirá da fé, por que está sendo edificada na areia e não na rocha que é Cristo. Ademais, se o milagre for a única “isca” do evangelho, quando eles cessarem ou tardarem, logo a fé se acaba.
CONCLUSÃO
Em sua carta aos gálatas o apóstolo Paulo escreve: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.” (Gl 1.8)
O pós-modernismo trouxe consigo inúmeras inovações teológicas as quais tem prejudicado substancialmente o evangelho pleno do Reino de Deus, tais como o Evangelho da Autoajuda, o Evangelho da Confissão Positiva, o Evangelho Liberal e a Teologia da Prosperidade que se encaixam perfeitamente na categoria de outro evangelho de que Paulo fala. São evangelhos que reduzem a soberania de Deus, e concede poderes aos homens, consequentemente proclamando o humanismo e o materialismo e retirando de Deus o que lhe pertence – a honra, a glória, o poder (Ap 4.11).
Nestes dias de evangelho fácil, torna-se por demais necessário que voltemos às Escrituras, aliás, que voltemos ao evangelho para que lembremos a verdadeira prioridade do Reino de Deus – pregar a Cristo crucificado (I Co 1.23)!


sexta-feira, 13 de maio de 2016

A LIDERANÇA CRISTÃ NO NOVO TESTAMENTO COMO MODELO PARA A IGREJA ATUAL

Historicamente tem se asseverado que os princípios doutrinários e administrativos da igreja no século I são o paradigma para a igreja de Cristo em qualquer época e lugar, sendo que qualquer forma de administração na igreja deve estar submetida primeiramente à doutrina revelada nas Escrituras de modo que qualquer liderança que oprima e não sirva os liderados ou que promova a imagem do líder deve ser rejeitada por não atender ao princípio bíblico de que liderar é prestar serviço a Deus e ao seu Reino.
O teólogo Geremias do Couto define, em termos gerais, o que é liderança: “Liderança, em suma, nada mais é do que exercer influência sobre outras pessoas e fazer com que elas sigam o caminho traçado por aquele que lidera. Dito isto, o líder cristão deve ajudar os seus liderados a seguir o caminho traçado pelo Evangelho.
Diferentemente do período da Lei, cuja liderança era mais simplificada (apenas reis, sacerdotes e profetas, por exemplo), o Novo Testamento surge com uma variedade enorme de liderança, conforme vemos no texto de Efésios 4.11-16:
“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos a unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em toda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.”  (grifo nosso)
O texto supra não apenas descreve as lideranças básicas (ou dons ministeriais) da igreja como também fala de suas funções no corpo de Cristo. Vale lembrar que a liderança no NT não é de modo algum hereditária ou exclusivista, pois, conforme sabemos, somente à tribo de Judá foi outorgada a Monarquia Judaica (Gn 49.10) e somente à tribo de Levi foi conferido o sacerdócio (Ex 28.1). Infelizmente muitos pastores têm insistido em apresentar seus filhos ao ministério sem ao menos ter certeza de seu chamado divino. Tudo funciona como uma forma de concentração de poder familiar, e os prejuízos são certos.
Há um grave problema associado à liderança em alguns círculos evangélicos, onde o líder é reverenciado com um “super-homem” inquestionável e intocável, cujos ensinamentos não podem questionados, pois tudo o que ele fala é reputado como verdade absoluta, mas, sem dúvidas, esses líderes são autoritários e centralizadores que não aceitam qualquer disciplina, pois acham-se superiores a ela. A isto e sobre o modelo de liderança o Rev. Augustus Nicodemus reponde: “Quer seja o modelo presbiteriano, quer seja o modelo batista ou congregacional, o ponto é que tem que ser um modelo que esteja em linha com os princípios da Palavra de Deus. Que o líder esteja debaixo de algum tipo de accountability, ou seja, ele tem que responder pelo que faz, ele pode ser deposto, se cair em erro ele pode ser disciplinado. Ele não governa sozinho. (…). Cristo entregou o governo da igreja a um grupo, é colegiado para governar a igreja”.

Se a nova liderança cristã que emerge no cenário pós-moderno não for baseada nos princípios bíblicos o líder será um mero “patrão”, a igreja seus “empregados-escravos”, outras igrejas são “empresas concorrentes” e tudo se resume em uma atividade financeiramente rentável, e destituída de qualquer sentido escriturístico.