Sem dúvida
alguma o nosso Senhor Jesus Cristo é o maior líder que já existiu! Maior em
sabedoria, maior em poder, maior em graça e por demais estratégico e focado em
cumprir metas. Sim, cumprir metas, a saber, cumprir a Lei e estabelecer um novo
caminho para o céu (Jo 14.6; Hb 10.19,20). Tal objetivo foi cumprido cabalmente
e, enquanto os efetivava, Ele treinava seus 12 apóstolos que seriam testemunhas
vivas da sua encarnação e anunciariam o seu Evangelho em todo o mundo defensivamente,
sendo os primeiros apologistas cristãos na história da igreja (Mc 16.16).
A liderança
dos apóstolos de Jesus tem sido mal entendida nestes dias. Há que faça uso do
título para justificar supostas unções ao mesmo tempo em que exigem um respeito
superior por causa dessa nomenclatura, que lhes conferem a ideia de representantes legítimos de Cristo e,
sobretudo, intocáveis! Mas não é esse
o conceito que inferimos em Atos dos Apóstolos e nas epístolas. A liderança
apostólica não estava ligada necessariamente à administração eclesiástica, não
trazia aos apóstolos algum status social e muito menos um sacerdócio
centralizado. Vale dizer que alguém só era considerado um apóstolo de Cristo se
(1) tivesse aprendido diretamente com ele e (2) ter sido testemunha de sua
ressurreição. Se nos basearmos nestes dois critérios, segue-se que os que hoje
se intitulam apóstolos, na verdade, nada são.
Segundo A.F.
Walls, historicamente a liderança dos apóstolos não estava relacionada
primeiramente à administração eclesiástica, mas sim “servirem de testemunhas a Cristo, testemunho este baseado em anos de
conhecimento íntimo, experiências preciosas e treinamento intenso”. O
teólogo acima citado também assevera que eles eram “apenas pedras de toque da doutrina, os tesoureiros da tradição
autêntica sobre Cristo”, ou seja, em outras palavras, eram pontos de
referência acerca do Cristo. Foram os enviados
por Cristo para anunciarem as Boas Novas, plantarem igrejas, servir, mesmo que
à distância, no ministério do ensino e combater as heresias que já eram
existentes desde a fundação do Cristianismo.
Um dado
importante associado ao que já foi dito acima é que apóstolo e governo são
dons ministeriais distintos (I Co 12.28). Isso já mostra que nem todo apóstolo
era um dirigente de congregação, mas também podiam servir na assistência
espiritual das igrejas (At 8.14,15) e também escolhiam dirigentes locais para
cuidar das novas congregações que nasciam. É importante dizer que cada
congregação recebia autonomia própria para realizar diversas atividades, como,
por exemplo, escolher os 7 diáconos (At 6.2,3) e batizar novos convertidos (I
Co 1.14,16). Merece destaque também o primeiro concílio da igreja – Concilio de
Jerusalém – que não foi presidido somente pelos apóstolos, mas também por
anciãos.
Mas o que
dizer sobre os autointitulados apóstolos de hoje? Preciso considerar o que a
história da igreja já conta: que quando todos os apóstolos, incluindo Paulo,
morreram (por volta de 100 d.C.) acabou-se a era apostólica. Conforme escreve
Roger Olson, entre o final do século I e início do século II “cada congregação tinha um presbítero ou
grupo de presbíteros”, e algum tempo depois “a maior das igrejas selecionava um só presbítero para servir como bispo”
que receberia uma função parecida com os apóstolos. No entanto, com o tempo,
esses bispos, por causa de sua autoridade, centralizaram neles mesmos quase
todo (senão todo) o serviço cristão. Isso quer dizer, segundo Olson, que até “o início do século III, era comum que
cristãos leigos (...) oficiassem batismos e dirigissem os cultos, inclusive a
ceia do Senhor”, mas lhes foram tiradas a autoridade e liberdade de
servirem nos cultos sem serem ministros oficiais.
Dito
isto, fica claro que o apostolado acabou-se com João e que a liderança dos
apóstolos consistia, basicamente, em testemunhar a Cristo (At 1.8), anunciar o
Evangelho (Mc 16.16), servir no ministério do ensino (At 6.4) e combater
heresias e influências pagãs na igreja (como se lê em Gálatas e I Coríntios). Mas
não é isso que vemos nos autointitulados apóstolos de hoje! Não testemunham do
Cristo bíblico, não anunciam o evangelho, ensinam “outro evangelho”, introduzem
heresias, não tem um mínimo de cérebro para defender o evangelho pleno e estão
sentados nas cadeiras dos apóstolos!
Referências
Bibliográficas:
O NOVO Dicionário da Bíblia. São Paulo: Edições Vida Nova, 1962.
Olson, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora Vida, 1999