Historicamente
tem se asseverado que os princípios doutrinários e administrativos da igreja no
século I são o paradigma para a igreja de Cristo em qualquer época e lugar, sendo
que qualquer forma de administração na igreja deve estar submetida
primeiramente à doutrina revelada nas Escrituras de modo que qualquer liderança
que oprima e não sirva os liderados ou que promova a imagem do líder deve ser
rejeitada por não atender ao princípio bíblico de que liderar é prestar serviço
a Deus e ao seu Reino.
O teólogo
Geremias do Couto define, em termos gerais, o que é liderança: “Liderança, em suma, nada mais é do que exercer
influência sobre outras pessoas e fazer com que elas sigam o caminho traçado
por aquele que lidera”. Dito isto, o líder cristão deve ajudar os seus
liderados a seguir o caminho traçado pelo Evangelho.
Diferentemente
do período da Lei, cuja liderança era mais simplificada (apenas reis,
sacerdotes e profetas, por exemplo), o Novo Testamento surge com uma variedade
enorme de liderança, conforme vemos no texto de Efésios 4.11-16:
“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do
ministério, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos a unidade
da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da
estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes,
levados em toda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com
astúcia, enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em caridade,
cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem
ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de
cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.” (grifo
nosso)
O texto
supra não apenas descreve as lideranças básicas (ou dons ministeriais) da
igreja como também fala de suas funções no corpo de Cristo. Vale lembrar que a
liderança no NT não é de modo algum hereditária ou exclusivista, pois, conforme
sabemos, somente à tribo de Judá foi outorgada a Monarquia Judaica (Gn 49.10) e
somente à tribo de Levi foi conferido o sacerdócio (Ex 28.1). Infelizmente muitos
pastores têm insistido em apresentar seus filhos ao ministério sem ao menos ter
certeza de seu chamado divino. Tudo funciona como uma forma de concentração de
poder familiar, e os prejuízos são certos.
Há um grave
problema associado à liderança em alguns círculos evangélicos, onde o líder é
reverenciado com um “super-homem” inquestionável e intocável, cujos ensinamentos
não podem questionados, pois tudo o que ele fala é reputado como verdade absoluta,
mas, sem dúvidas, esses líderes são autoritários e centralizadores que não
aceitam qualquer disciplina, pois acham-se superiores a ela. A isto e sobre o
modelo de liderança o Rev. Augustus Nicodemus reponde: “Quer seja o modelo presbiteriano, quer seja o
modelo batista ou congregacional, o ponto é que tem que ser um modelo que
esteja em linha com os princípios da Palavra de Deus. Que o líder esteja
debaixo de algum tipo de accountability, ou seja, ele tem que responder pelo
que faz, ele pode ser deposto, se cair em erro ele pode ser disciplinado. Ele
não governa sozinho. (…). Cristo entregou o governo da igreja a um grupo, é
colegiado para governar a igreja”.
Se a nova liderança cristã que emerge no cenário
pós-moderno não for baseada nos princípios bíblicos o líder será um mero “patrão”,
a igreja seus “empregados-escravos”, outras igrejas são “empresas concorrentes”
e tudo se resume em uma atividade financeiramente rentável, e destituída de qualquer
sentido escriturístico.
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